A maior parte dos pais da minha geração cresceu com uma realidade bastante diferente da dos seus filhos.
Os nossos pais, muitos com a quarta classe, outros pouco mais que isso, davam-nos o essencial: liberdade com responsabilidade. Íamos sozinhos para a escola, organizávamo-nos como podíamos e estudávamos sem grandes apoios em casa. E isso, de certa forma, moldou-nos. Aprendemos cedo a tomar conta de nós próprios. Ou não, até porque na altura nem todos tinham de ser engenheiros ou doutores.
Hoje, tudo mudou. E o que antes era impensável, tornou-se a norma. A maioria das crianças, até aos 15 anos, não vai sozinha para a escola. Raras são aquelas que estudam sem a supervisão direta dos pais. É comum vermos pais a estudar ao lado dos filhos até ao 6.º ou 7º ano. Há quem critique isto. Eu prefiro encarar como um reflexo de um mundo que se transformou e, que se prepara para mudar ainda mais radicalmente com a chegada da Inteligência Artificial e tudo que advém dela.
O que me preocupa não é a forma como os pais ajudam os filhos. É o sistema de ensino, que continua agarrado a métodos e conteúdos do século passado, enquanto o mercado de trabalho do futuro já vive no século XXI. E quando digo futuro, não falo de algo longínquo, estou a falar dos próximos 5 a 10 anos.
Estamos a preparar os nossos filhos para um mundo que já não vai existir.
O meu filho, por exemplo, é fascinado por Legos. Mas não me fico por aí. Incentivo-o a trabalhar com uma impressora 3D, a desenhar os seus próprios modelos, a programar em Raspberry Pi.
Aos poucos, vai tendo contacto com eletrónica, design, lógica, criatividade, pensamento crítico. E tudo isso é feito com ferramentas que o tornam cada vez mais multi-skills, uma característica que considero fundamental para o futuro.
Num mundo onde a IA vai ser omnipresente, será cada vez menos relevante decorar datas ou fórmulas. O valor estará na capacidade de integrar, questionar, criar e adaptar. Os profissionais do futuro não serão definidos por um único título, mas sim por um conjunto de competências que lhes permite navegar e resolver problemas em áreas distintas. Não será o “médico”, o “engenheiro” ou o “arquiteto”. Será aquele que, com ferramentas digitais e inteligência artificial, constrói soluções de forma autónoma, rápida e integrada.
Se antes eram precisas equipas inteiras para desenvolver um projeto, no futuro uma única pessoa com conhecimento transversal e domínio das ferramentas certas pode fazer o mesmo.
E é esse o meu foco como pai: não só acompanhar o percurso académico do meu filho, mas sobretudo ajudá-lo a desenvolver ferramentas reais para o mundo que aí vem. Não lhe quero impor um caminho. Quero mostrar-lhe o mapa e dar-lhe os instrumentos certos para o trilhar.
Como veem o futuro dos vossos filhos?
Como os estão a preparar para um mundo onde o conhecimento está à distância de um clique, mas onde a criatividade e a capacidade de adaptação serão os maiores trunfos?
Partilhem a vossa visão.
Vamos começar esta conversa, porque se há tema que merece ser discutido com profundidade, é este: como educar para um futuro que ainda não conhecemos.





